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Capoeira

   Esta imagem de Rugendas é considerada o primeiro registro preciso sobre a capoeira

 

Na roda formada, o comandante é o berimbau. É ele que dá o ritmo que faz o corpo vibrar. Por isso, antes da luta, os jogadores se agacham a seus pés, em sinal de respeito. O berimbau-mestre dá o primeiro toque e é seguido pelos outros instrumentos: pandeiro, atabaque, agogô, reco-reco e os demais berimbaus.

Começa a ladainha, que se canta antes do jogo. O cantador dá início ao canto de entrada, ao que os outros componentes respondem. No início do combate, à saída ao pé do berimbau, os oponentes apertam as mãos se o combate é amigável, senão já se sabe que a luta é pra valer. Apoiando-se nas mãos, os jogadores viram os corpos e caem no centro da roda, onde se põem a gingar em atitute de defesa ou ataque. Um bom capoeira acompanha o movimento de adversário com atenção extrema, prevendo o instante de atacar. O corpo todo se tranforma em arma de ataque ou escudo de defesa.

Em certo sentido, a resistência negra é representada pela capoeira. Não se pode dizer quando a capoeira se definiu, com seus movimentos e golpes. O certo é que esse processo acompanhou o século XIX e concidiu com a urbanização do país.

As mudanças ocorridas na economia e na política do império, a crescente substituição da mão de obra escrava pela do imigrante geraram uma inevitável situação de marginalidade. Vários aspectos da cultura afro-brasileira passaram a sofrer forte repressão, pois para as eltes essas manifestações comprometiam o modelo civilizador que buscavam, ou seja, não estavam de acordo com os costumes dos países que consideravam mais civilizados. Em nome dessa justificatica, forjaram argumentos para a repressão e proibição dessas manifestações.

À época, em três cidades portuárias - Rio de Janeiro, Salvador e Recife - predominava a população negra, indispensável para a dinâmica da vida urbana e principal responsável pela grande movimentação das ruas. Eram vendedores ambulantes, feirantes, serviçais de limpeza, ou estavam ligados ao porto como estivadores, trapicheiros e remadores.

A capoeira passou a fazer parte do cotidiano da vida urbana e sua prática começou a preocupar as autoridades policiais. No Rio de janeiro, por exemplo, a maioria dos capoeiras reunia-se em grupos (maltas) de vinte a cem indivíduos. Em geral, cada grupo pertencia a um bairro.

Aos domingos, feriados e dias santos, quando todos tinham folga, o bom capoeira aparecia de terno branco, sapato de bico fino, lenço de seda no pescoço e jogava com tamanha habilidade que não sujava a "domingueira", sua roupa de domingo.

Um hábito das maltas era acompanhar os desfiles da Marinha e do Exército dançando e aplicando certos golpes à frente das bandas de música, ou sair nos dias de festa para enfrentar maltas rivais, disfarçando a luta na brincadeira.

Calcula-se que no Rio de Janeiro, às vésperas da proclamação da República, havia cerca de vinte mil capoeiristas. Mesmo assim, ao final do século XIX, a capoeira era considerada coisa de marginais vadios e desocupados. Por isso, eram perseguidos pela polícia.

Logo no início da República, o marechal Deodoro resolveu acabar com a liberdade dos capoeiras. Através do Código Penal, instituído em 11 de outubro de 1890, o novo governo deu tratamento específico à capoeira. No capítulo XIII, intitulado Dos vadios e capoeiras, sua prática ficava sujeita à prisão.

Em contrapartida, como havia acontecido com o lundu, a capoeira começou a ser praticada por brancos. Nas décadas seguintes, justificava-se a capoeira como uma ginástica saudável e que os perigos eram os vagabundos e vadios que a praticavam. A capoeira saiu das ruas e foi parar nas academias.

Mas, apesar da repressão e da apropriação, a capoeira, como outras manifestações afro-brasileiras, passou uma rasteira nas autoridades e nas elites. Continuou a ser praticada e muitos capoeiras entraram para a história, por meio de narrativas, cantigas e ladainhas que os eternizaram, como o Besouro Mangangá (1897 - 1924), na Bahia, ou Madame Satã (1900 - 1976), no Rio de Janeiro. As figuras mais ilustres e consideradas como ancestrais da capoeira são Vicente Ferreira (1889 - 1910), o Mestre Pastinha, fundador da capoeira Angola, e Manoel dos Reis Machado (1900 - 1974), o Mestre Bimba, fundador da capoeira regional.

 

#SAIBA MAIS

- Estivadores: Operário que trabalha nos portos, no serviço de carga e descarga de navios.

- Trapiche: Grande armazém, próximo de um cais, onde se depositam e guardam mercadorias.

- Trapicheiros: É a pessoa que administra o armazém geral, ou seja o administrador, o fiel depositário do armazém.

Tancredo Professor . 2024
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