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O Coronelismo e o mundo rural

A primeira República foi chamada de República dos Fazendeiros, ou República dos Coronéis, como também de República Velha (1889-1930), caracterizada pelo controle político exercido pelos coronéis em suas regiões.

 

Da Monarquia à República

O poder dos coronéis teve sua origem na época do Império. Em 1831, para enfrentar as diversas rebeliões e manter o poder público, o Governo da Regência criou a Guarda Nacional.

Foi dada aos poderosos locais (fazendeiros influentes e com muitos escravos) uma patente militar com a missão de formar uma força militar para enfrentar os revoltosos. Tais elementos ficaram conhecidos como Coronéis da Guarda Nacional. Apesar da Guarda Nacional ter sido extinta em 1918, os coronéis continuaram a existir com muito poder, recebendo a denominação de "Coroné".

Os coronéis detinham em suas mãos grande parcela do poder político e econômico de suas regiões.

Na República Velha, o poder dos coronéis aumentava à medida em que o controle político do eleitorado rural passava a definir a composição e a força das oligarquias estaduais. O voto passou a ter mais importância e a ser controlado diretamente pelos coronéis (voto de cabresto).

 

Coronelismo: compromisso político e relações sociais

O coronel era um chefe político de reconhecido poder econômico e prestígio junto ao Governo Estadual. Ele poderia ser fazendeiro, comerciante, industrial ou até profissional liberal.

Para ganhar eleições, era preciso ter votos certos. Surgiram assim os "cabos eleitorais", homens que eram pagos para organizar eleitores, formando um grande "curral eleitoral" no qual os candidatos do coronel ou outros por ele indicados recebiam uma enxurrada de votos.

Com o seu curral eleitoral o coronel elegia o Governo Estadual. Daí o seu papel intermediário nas relações entre o Estado e a população. Era através do coronel que a população conseguia empregos, providências médicas ou hospitalares, escolas e proteção.

O Brasil da Primeira República não era apenas a terra dos coronéis e das oligarquias estaduais. O mundo rural era também um mundo dos homens e das mulheres de mãos marcadas pela enxada, pelo machado, pela foice e pelo laço de couro: trabalhadores das estâncias do sul, que cuidavam do rebanho, cultivavam o trigo e as vinhas; lavradores de cafezais, das plantações de cacau e tabaco; volantes dos seringais e castanheiras do norte; boiadeiros do sertão; lavradores dos canaviais nordestinos, entre outros. Na República Velha os trabalhadores rurais não tinham legislação previdenciária e eram obrigados a entregar ao proprietário quase a totalidade do fruto do seu trabalho.

O coronelismo pode ser definido como um sistema de troca eleitoral, de um lado proteção e favores, sobretudo econômicos; de outro, o voto seguro e controlado. Era o "voto de cabresto".

Em algumas situações, a força das armas era acionada, empregando-se as milícias particulares formadas por jagunços, que encarregavam-se de "convencer" os eleitores contrários ou indecisos. Eram chamadas eleições de clavinote, nas quais os eleitores votavam sob a vista do jagunço. O voto não era secreto.

A Constituição de 1891 permitiu a criação de mecanismos que favoreceram uma maior descentralização do poder. Continuou existindo um sistema eleitoral viciado e controlado pelo poder público. O voto dos eleitores continuava manipulado e controlado pelos chefes locais. Essa foi uma das marcas da vida política e social na Primeira República, uma República dos Coronéis.

 

Os coronéis não desapareceram por completo após os anos 30. Muitos sobrevivem ainda hoje, mesmo que como figuras isoladas.

Tancredo Professor . 2024
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