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Roma: Os Bárbaros estão chegando

Neste texto o autor fala dos germanos. Descreve seus costumes, seus valores e suas crenças.

 

OS GERMANOS

Na época de César, os germanos – povos pouco civilizados, originários de além-Reno e falando um dialeto germânico - eram muito menos evoluídos do que os gauleses. De alta estatura tinham a tez clara. A maior parte vestia-se sumariamente, com uma espécie de saia feita de peles de animais e, embora nem sempre, uma capa de pele (as peles malhadas eram as mais apreciadas); por vezes usavam bragas. Certas tribos fabricavam roupas de lã, crua ou tingida de cores escuras. Os chefes usavam frequentemente uma túnica justa, com mangas compridas.
Os homens casavam tarde; existia a poligamia, mas as mulheres parecem ter desempenhado papel ativo nas decisões dos clãs. Os germanos prezavam ao mais alto grau a coragem e a resistência e menosprezavam o conforto e a vida sedentária, que, segundo eles, conduziam à inércia; praticavam sobretudo a caça e a criação de gado. A alimentação era à base de leite, queijo e carne e o vinho interdito, pois consideravam-no enfraquecedor dos costumes. A propriedade privada rural não existia; o chefe do clã atribuía anualmente a cada família um pedaço de terra, no qual não era permitido ficar dois anos seguidos, para impedir o desenvolvimento do instinto sedentário.
Os germanos não tinham druidas e não celebravam sacrifícios. Apenas veneravam como deuses o sol, a lua, o fogo, o raio e outros fenômenos naturais.
A adivinhação, que consistia no lançamento de ossículos ou de pauzinhos marcados com sinais mágicos, cabia às mulheres idosas. Pouco se encorajavam os comerciantes vindos do estrangeiro, pois os germanos preferiam fazer escoar o seu espólio de guerra a comprar artigos de um luxo que desprezavam. A hospitalidade era um hábito, mas incentivavam-se os jovens a efetuarem incursões nas tribos vizinhas, para se aguerrirem (por outro lado, puniam-se severamente as rapinas feitas contra os membros da mesma tribo).
Os povos germânicos procuravam cercar os seus territórios de zonas despovoadas tão extensas quanto possível, como sinal de poder e, sobretudo, como medida de segurança.
Entre eles, a arma mais prestigiada era a cavalaria. Os cavalos germanos eram pequenos, mas resistentes e muito bem treinados; com frequência, quando os cavaleiros saltavam para o chão para combater, as suas montadas esperavam-nos sem se mexerem. A arma corrente era a azagaia ou framea, que podia lançar-se como um dardo ou utilizar-se como uma lança. Os escudos, chatos, eram redondos ou ovais. Os germanos não usavam capacete; quanto à armaduras, muito raras, provinham do espólio de guerra. Desdenhavam do uso de selas e de estribos. Quando combatiam tropas montadas, saltavam frequentemente para terra, para esventrar os cavalos do inimigo e obriga-lo a desmontar. Uma tática bem concebida consistia em flanquear cada cavaleiro com um homem a pé, para que se ajudassem mutuamente durante o combate. Os soldados de infantaria, armados de azagaias e de um escudo, nunca tinham armadura. O grito de guerra dos germanos (barritus) impressionou os romanos; começava por uma nota grave e depois uma aguda, com o escudo colocado em frente da boca, de modo a ampliar o som.

(ABRANSON, E. A vida de um legionário. Lisboa, Verbo, 1984, p.36).

 

#SAIBA MAIS:
- Azagaia: lança curta.
- Bragas: calção geralmente curto e largo.
- Druidas: antigos sacerdotes da Gália e da Bretanha.
- Espólio: Bens deixados por alguém ao morrer. Restos, despojos.
- Esventrar: furar o ventre.
- Flanquear: marchar ao lado, paralelamente.
- Interdito: proibido.
- Montadas: cavalgadura, montaria.

Tancredo Professor . 2024
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