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Nazismo. Hitler

Hitler foi o chefe do nazismo na Alemanha. Neste texto o autor oferece-nos importantes informações sobre sua personalidade e sua maneira de agir.

 

HITLER

Em sua primeira fotografia como chanceler, na presença do presidente, o marechal de campo Von Hindenburg, Hitler parece rígido, inibido e humilde (...)

Mas por trás dessa máscara ocultava-se um calculismo frio. Penetrou no rebanho como um lobo em pele de cordeiro.

Sabia perfeitamente como atuar de acordo com sua audiência: na presença de banqueiros falava de um modo; quando na companhia de soldados, de outro; quando estava com operários industriais, utilizava uma linguagem diferente da empregada com os camponeses. Quando desejava atingir determinado objetivo, utilizava vários recursos: um olhar inspirado e o charme austríaco, ataque de choro e ameaças de suicídio, tempestades de fúrias e transigência, monólogos sem fim e crueldade deliberada. Era astuto, perspicaz, ardiloso, habilidoso e extremamente desonesto - a amoralidade personificada.

Enquanto os capitães de indústria, os banqueiros, os Junkers e o Exército eram enganados por sua duplicidade, as massas confiantes que votavam em Hitler não tomavam conhecimento do lado medíocre, repulsivo e cômico de sua imagem. Parecia, para milhões, o salvador, cuja conduta selvagem e cujos sons guturais vazios de sentido os levavam a um estado de êxtase. Sua maneira simples de vestir-se, sua abstinência e seu celibato elevaram-no às mais altas esferas.

Hitler chegou ao poder devido à sua habilidade oratória. Sentia instintivamente as necessidades das massas; antes de começar a falar sentia a atmosfera e a disposição da audiência. Suas explosões emocionais eram cuidadosamente planejadas. Muitas vezes conseguia transformar uma audiência hostil numa multidão de seguidores devotados.

Mesmo depois de conquistar o poder supremo, Hitler não abandonou a oratória. Necessitava de contato permanente com as massas. Confrontar-se com dezenas e centenas de milhares de pessoas; sozinho e isolado numa imensa plataforma, equivalia a uma purificação. Precisava dessa atmosfera teatral para afirmar-se, deixava-se levar pela intoxicação das massas. (...)

Hitler tinha certa dificuldade em entrar em contato com as pessoas. Embora estivesse sempre cercado delas, sentia-se sozinho. Não tinha verdadeiros amigos - Röhm, seu amigo íntimo, foi executado a seu mando -, evitava o relacionamento familiar e, durante os doze anos que esteve no poder, só teve uma amante que escondia dos olhos do mundo e mantinha aprisionada como se fosse um pássaro na gaiola. Não possuía o menor senso de humor. Estava sempre posando como ditador, dos pés a cabeça. As massas o viam apenas como ele desejava ser visto; era terminantemente proibida a publicação de fotografias consideradas desfavoráveis.

Hitler nunca teve um emprego fixo, odiava o trabalho regular e os horários rígidos. Pouco depois de ter sido nomeado chanceler, retornou a seu modo de vida desordenado. Mantinha-se fora de Berlim, conversava durante horas com os artistas em Munique, ou retirava-se para as montanhas durante semanas, enquanto reinava o caos no governo, no partido e na administração. Postergava durante meses decisões importantes, pois não gostava de comprometer-se. Esperava, aparentemente em total passividade, como uma aranha em sua teia, por sua oportunidade então - ditado por seu instinto de poder e por sua disposição - decidia-se repentinamente.

Esse Homo novus provinha de família camponesa do norte da Áustria, em que os casamentos consanguíneos eram prática corrente. Era um tipo semi-instruído, dono de um vocabulário extenso, mas superficial. Tinha uma força de vontade prodigiosa, mas, ao mesmo tempo, carecia de senso de realidade. Seguia seus objetivos como um sonâmbulo e desde sua juventude só desejava uma coisa: poder. Queria utilizá-lo para realizar seus sonhos ilusórios de um império ocidental e de uma raça superior. Quando atingiu o poder, declarou que nunca o largaria.

A Alemanha estava nas mãos de um jogador político que a governava segundo o princípio de "Tudo ou Nada": ou a Alemanha dominaria o mundo ou deixaria de existir. Quase todos os líderes nazistas provinham das fileiras dos desclassificados, desempregados e dos despedaçados pela experiência da guerra. Eram pessoas de natureza mercenária, que após a Primeira Guerra Mundial, não conseguiram retornar a vida normal; neuróticos que por alguma razão odiavam seu meio, oportunistas ambiciosos e frios. Muito disso se aplica sob medida a Hermann Goering, que, durante muito tempo foi o indivíduo mais poderoso depois de Hitler, até que outros nazistas mais hábeis o destronaram.

JANSSEN, K H. Hitler e seus adeptos. In: História do século XX. v. 3. São Paulo, Abril Cultural. p. 1430-1.

 

#SAIBA MAIS

- Ardiloso: que usa de ardis, astucioso, manhoso, velhaco.

- Junker: eram denominados os membros da nobreza constituída por grandes proprietários de terras nos estados alemães anteriores e durante o 2.º Reich (1871-1918).

Tancredo Professor . 2024
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