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Portugal: As deficiências de um pioneirismo

#O pequeno reino português, nascido em meio às lutas pela Reconquista, não possuía uma economia agrária sólida. Também não tinha uma economia urbana (artesanato) que fosse de valor significativo. O empreendimento militar impregnava a vida portuguesa e a pilhagem foi a grande marca do período da Reconquista. Os cristãos roubavam os mouros e os mouros roubavam os cristãos. As atividades produtivas do reino eram prejudicadas inclusive pela falta de matérias-primas que pudessem ser exportadas ou aproveitadas internamente. Por isso, devido à sua privilegiada posição geográfica, Portugal desenvolveu o comércio, mas um comércio meramente de trânsito. Londres, Paris, Antuérpia, Florença, além de serem cidades comerciais, também possuíam indústrias manufatureiras próprias: lãs, vidros, tecelagem, etc. Como Portugal não tinha um produto nacional próprio em condições de competir no mercado europeu, restou-lhe voltar-se principalmente para o comércio. Assim, o reino português tornou-se um entreposto comercial movimentado, atraindo a presença de inúmeros estrangeiros que lá estabeleciam seus negócios.

Depois da Revolução de Avis, a burguesia portuguesa, aliada à burguesia europeia (italianos, holandeses, ingleses, alemães), mostrou ao rei de Portugal as vantagens econômicas da conquista do norte da África, que foi o marco inaugural da expansão portuguesa. A Igreja concordava com o empreendimento, pois justificava-o como o prolongamento da Reconquista cristã, que iria banir os "infiéis muçulmanos" de Ceuta. No plano interno, a conquista podia ser utilizada para sossegar a nobreza descontente com a Revolução de Avis, desviando suas insatisfações para inimigos externos. Surgiu, dessa maneira, um consenso nacional e internacional em torno da conquista de Ceuta. Iniciou-se, então, em 1415, a longa e pioneira aventura expansionista que marcou toda a história portuguesa.

Entretanto, todo esse pioneirismo estava contaminado por sérias deficiências, capazes de impedir que Portugal recolhesse plenos frutos de empreendimento expansionista. Isso porque, desde o início até o final, as grandes vantagens econômicas da expansão marítima não foram canalizadas para as mãos dos portugueses. Foram eles que comandaram e controlaram exteriormente esse monumental empreendimento. Porém, não auferiram os enormes lucros dele decorrentes. Portugal ficou com os grandes riscos de manter as praças avançadas que ia conquistando nos reinos africanos e asiáticos. E pagou alto preço pelo seu pioneirismo: o preço de lutar contra o desconhecido, de sofrer naufrágios, doenças, combater adversários nativos, etc. Tudo isso para trazer Europa os apreciados produtos coloniais que, ali chegando, passavam às mãos dos holandeses e outros povos, encarregados de sua distribuição no mercado europeu: tarefa bem menos arriscada e muito mais lucrativa. Assumindo a comercialização dos produtos coloniais dentro da Europa, os grupos estrangeiros podiam controlar e manipular os preços. Tornaram-se, então, os financiadores e credores do empreendimento português, que, por sua vez, foi-se restringindo à manutenção das colônias e ao risco do transporte das mercadorias.

 

#SAIBA MAIS

- Mouro: Que diz respeito aos mouros; mourisco. Muçulmano. Natural da antiga Mauritânia (África ocidental). Indivíduo que trabalha muito.

Tancredo Professor . 2024
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